João Cabral de Melo Neto e sua paixão pelo flamenco

Como proposta de atividade  do  7º ano C, utilizaremos a biografia e duas poesias de João Cabral de Melo Neto para contribuir com o Café Literário 2019 que tem como tema Vida em Movimento.
A mesma turma já havia estudado o autor citado com o professor de Língua Portuguesa Ademar durante o ano letivo de 2018, estudaram Morte e Vida Severina. Quis aproveitar o mesmo autor porém com outro enfoque: mostrar a paixão dele pela Espanha e tentar contextualizar com a nossa realidade. Segue abaixo as duas poesias

https://www.luso-poemas.net/modules/news03/article.php?storyid=1003 A Viagem


Quem é alguém que caminha
Toda a manhã com tristeza
Dentro de minhas roupas, perdido
Além do sonho e da rua?

Das roupas que vão crescendo
Como se levassem nos bolsos
Doces geografias, pensamentos
De além do sonho e da rua?

Alguém a cada momento
Vem morrer no longe horizonte
Do meu quarto, onde esse alguém
É vento, barco, continente.

Alguém me diz toda a noite
Coisas em voz que não ouço.
- Falemos na viagem, eu lembro.
Alguém me fala na viagem.

In "O engenheiro", 1945.

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Sevilha em Casa

Tenho Sevilha em minha casa.
Não sou eu que está chez Sevilha.
É Sevilha em mim, minha sala.
Sevilha e tudo o que ela afia.
Sevilha veio a Pernambuco
porque Aloísio lhe dizia
que o Capibaribe e o Guadalquivir
são de uma só maçonaria.
Eis que agora Sevilha cobra
onde a irmandade que haveria:
faço vir as pressas ao Porto
Sevilhana além de Sevilha.
Sevilhana que além do Atlântico
vivia o trópico na sombra
fugindo os sóis Copacabana
traz grossas cortinas de lona


Biografia
Consagrado como um dos maiores nomes da literatura brasileira, o pernambucano João Cabral de Melo Neto recebeu importantes prêmios por sua obra. Seu trabalho mais conhecido é o poema “Morte e Vida Severina”, um dos mais expressivos do final do século XX, no Brasil.
Nascido em Recife no dia 09 de janeiro de 1920, Cabral veio de uma família com muitos nomes ilustres. É primo do sociólogo Gilberto Freire e do escritor Manuel Bandeira, além de irmão do historiador Evaldo Cabral de Melo.
Membro de uma família abastada, dona de engenhos nas cidades de Moreno e São Lourenço da Mata, sempre teve acesso a leitura e a bons colégios, ingressando no Marista de Recife aos 10 anos.
Começou a trabalhar em 1937, na Associação Comercial de Pernambuco. Três anos depois, em 1940, viajou ao Rio de Janeiro com a família. Durante a viagem, conheceu importantes poetas, como Carlos Drummond de Andrade e Murilo Mendes.
A partir dessa época, sua atividade artística começa a se tornar mais expressiva. Em 1941 participou do Primeiro Congresso de Poesia do Recife, apresentando o livreto “Considerações sobre o Poeta Dormindo”. No ano seguinte, publicou seu primeiro livro, a coletânea de poemas “Pedra do Sono”.
Mudou-se para o Rio de Janeiro, onde trabalhou no Departamento de Arregimentação e Seleção de Pessoal entre os anos de 1943 e 1944. Pouco tempo depois, em 1945, veio o segundo livro, intitulado “O Engenheiro”.
Dois anos depois, por meio de concurso público, Cabral ingressa na carreira de diplomata, vivendo em importantes cidades ao redor do mundo. Ele passou por Londres, Genebra, Barcelona, Dakar, Sevilha e muitas outras.
Somente em 1950 deixa o estilo surrealista, que era característico até então, e passa a escrever sobre temas sociais. Seis anos depois, com a publicação de seu poema mais ilustre, o auto de Natal, “Morte e Vida Severina”, é que sua obra se popularizou, tornando-o um poeta consagrado.
A obra regionalista ficou conhecida em todo o país. Foi adaptada para o teatro, televisão, música, cinema, e até mesmo animação. No poema, o autor retrata, com grande profundidade, as condições de vida do retirante nordestino.
João Cabral de Melo Neto foi casado por duas vezes. Na primeira, com Stella Maria Barbosa de Oliveira, teve cinco filhos. Na segunda, casou-se com a poetisa, Marly de Oliveira.
O poeta ganhou importantes prêmios no decorrer de sua carreira. Em 1968 foi eleito como membro da Academia Brasileira de Letras, onde tomou posse da cadeira nº. 37 no ano seguinte. Em 1992, descobriu uma cegueira progressiva, condição que o levaria a depressão. Faleceu em 1999, aos 79 anos, vítima de um ataque cardíaco.
Fizemos uma lista com os doze melhores poemas de João Cabral de Melo Neto. Confira uma parte de sua vasta obra, que conta com vinte livros, publicados entre 1942 e 1989.

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